


Insuficiências do jornalismo não são retratadas na crítica de mídia
Murillo Saldanha
Estudante de Jornalismo
“Não ache, opine”, afirmam a jornalista Arlete Salvador e a linguista Dad Squarisi no livro “A Arte de Escrever Bem: Um Guia Para Jornalistas e Profissionais do Texto”. Tarefa inglória e trabalhosa é criticar, apontar fatos, selecionar argumentos e com muita observação e paciência encontrar uma linha de raciocínio e segui-la até a última palavra do texto. Outro fator, também muito importante, é seguir esse raciocínio baseado no gênero jornalístico escolhido.
Algumas das discussões apresentadas aos leitores do Jornal Matéria Prima (JMP) têm ficado rasas, pouco questionadoras e se tornaram apenas uma demonstração do problema, sem a busca pelas respostas.
Estudantes perdem a chance de fazerem do jornal-laboratório um contra jornalismo
No texto “O padrão de beleza imposto pela mídia” da edição 479ª do JMP, o discurso foi de autoaceitação e confiança das mulheres. Assunto importante, porém, a crítica de mídia não responde à pergunta principal: Onde a cobertura jornalística da imprensa entra nesse contexto?
Perdeu-se a oportunidade criticar, por exemplo, como esses padrões de beleza globais estão presentes no telejornalismo. Como a simples roupa de uma âncora mulher de telejornal é massacrada, enquanto o terninho preto dos homens não é assunto nas redes sociais.
Os estudantes perdem a chance de fazerem desse jornal-laboratório um contra jornalismo e de abordarem assuntos que dificilmente estarão na pauta da indústria de produção de notícias. Os conglomerados de comunicação não querem que um contra poder ameace a soberania. Faz-se necessário uma imprensa que pense a imprensa, para apontar os vícios do processo midiático que oculta as falhas e pouco representa a função democrática do jornalismo.
Alfabetizar os consumidores de informação e contribuir para melhorar a cobertura jornalística, são duas funções primordiais da crítica de mídia apontadas pelo jornalista Rogério Christofoletti no livro “Vitrine e Vidraça Crítica de Mídia e Qualidade no Jornalismo”. Oferecer bases para que as pessoas compreendam a cobertura jornalística e contribuir para melhorar a forma de como a notícia é apurada e transmitida, são fatores básicos que não podem ser esquecidos em uma crítica de mídia.
Inspiração para a coluna de ombudsman e qualquer outro gênero é o jornalista Alberto Dines, morto no mês passado. Ele sabia muito bem que o ato de criticar e dizer algo novo e não antecipável para garantir um jornalismo melhor era essencial. “A crítica não é uma atividade final e definitiva. Também ela é passível de crítica. Não fosse assim, a voz do crítico seria o julgamento conclusivo. Como se sabe, não existem julgamentos conclusivos, ninguém está em condições de dar a última sentença.”
Simples construções textuais para contar histórias que merecem ser conhecidas.
Jornal Matéria Prima é produzido por alunos do curso de Jornalismo do Centro Universitário Cesumar - UniCesumar - na disciplina Técnica de Reportagem.