


Trata-se de pequenas concessões até que tudo te destrua completamente
Láiza Maciel
Estudante de Jornalismo
Independentemente das classificações de gênero, é importante ressaltar que os seres humanos nasceram para viver em sociedade. Assim como a solidão, a falta de afeto e compartilhamento de ideias pode acarretar problemas emocionais. O excesso de cuidado, ciúmes e controle dentro das relações pode resultar em agressão, seja psicológica ou física.
Segundo pesquisa realizada pela Associação Artemis, (ONG contra a violência doméstica e obstétrica) três em cada cinco mulheres são vítimas de relacionamentos abusivos. A prática é uma violência silenciosa, não deixa marcas visíveis, mas aprisiona milhões de mulheres no país.
Todas as atitudes são para agradar ao parceiro (a) e não a si mesmo (a)
Para a psicóloga Raquel Silva Barreto, graduada pela Universidade Federal Fluminense e mestranda em Saúde Pública, relação abusiva é aquela onde predomina o excesso de poder sobre o outro. É o “desejo” de controlar o parceiro, de “tê-lo para si”. Esse comportamento, geralmente, começa de modo sutil e aos poucos ultrapassa os limites causando sofrimento e mal-estar.
O amor não pode doer de maneira alguma. Todo tipo de relacionamento tem que te fazer crescer, repensar e evoluir, diz a psicanalista Mayara Ferreira fundadora da rede Divam (Debates Integrados pela Valorização e Atendimento das Mulheres).
Tudo começa com pequenas intervenções, palpite na roupa, restrições com determinados amigos, ciúmes. Aparentemente esse é um relacionamento perfeito. Trata-se de cuidado e pequenas concessões. A maioria das pessoas não percebe que está em um relacionamento abusivo. E quando finalmente se dá conta, os transtornos psicológicos parecem irreversíveis. A vida se transforma em uma “anti-vida” e todas as atitudes são para agradar ao parceiro (a) e não a si mesmo (a).
Em 2016 a Central de Atendimento à Mulher, mais conhecida como “Ligue 180″, realizou mais de um milhão de atendimentos; 51% a mais do que os registros de 2015. Do total, 12,3% relatam violência, sendo a física em primeiro lugar (50,70%), seguida da violência psicológica (31,80%).
Apesar de as violências silenciosas – psicológica, moral e patrimonial – constarem na Lei Maria da Penha, muitas denúncias não são reconhecidas pelos tribunais de Justiça. Portanto, falar sobre o assunto é o primeiro passo.
Ainda que o número de páginas em prol da luta contra a violência tenha crescido significativamente nas redes sociais, contribuindo para que o número de denúncias aumenta-se para 40% em 2015. Ainda não podemos dizer que é o suficiente. As esferas públicas e políticas precisam se debruçar contra esse tipo de abuso e, juntos, criar uma rede de ajuda. As vítimas precisam entender que não estão sozinhas.
Jornal Matéria Prima é produzido por alunos do curso de Jornalismo do Centro Universitário Cesumar - UniCesumar - na disciplina Técnica de Reportagem.