


Legados de Alberto Dines e Audálio Dantas são inspiração de resistência
Adevanir Rezende
Estudante de Jornalismo
Os últimos dias de maio noticiaram as mortes de Alberto Dines, no dia 22, aos 86 anos, e de Audálio Dantas, no dia 30, aos 88 anos. Em frentes diferentes, importantes adversários da repressão no Brasil, seja aquela causada pelos militares durante a ditadura ou aquela cotidiana que privilegia alguns e diminui outros. Cidadãos de resistência, errantes pela fé na Justiça e no Jornalismo.
Dines galgou degraus na carreira até ser editor-chefe e marcar época no Jornal do Brasil (JB), com capas históricas. Em 1968, no dia seguinte à promulgação do Ato Institucional nº 5 (AI-5), a previsão do tempo indicava “Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável. O país está sendo varrido por fortes ventos”. Em 1973, a censura proibiu qualquer manchete sobre o golpe militar no Chile e Dines brilhou, driblando as ordens e publicando a primeira página do dia 12 de setembro sem título, apenas um texto da cobertura da queda de Allende. Demitido três meses depois.
Em estrutura, revolucionou a organização da Redação com a divisão de editorias, seções e cadernos; e também criou um Departamento de Pesquisa com edições anteriores, livros e negativos.
Contudo, é vazio contar a história de Dines sem evidenciar o papel como o Jornalismo sobre Jornalismo, e a assinatura da coluna “Jornal dos Jornais” na Folha, espaço de crítica de mídia em plena ditadura e precursora da função de ombudsman. Na mesma linha, como professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) instituiu a disciplina de Jornalismo Comparado.
A partir de 1996, o projeto Observatório da Imprensa trouxe o que ele chamava de “consciência crítica” da imprensa brasileira, discutindo a comunicação como centro de um processo de evolução para civilizar e não se prender ao aspecto tecnológico e superficial. Não são ferramentas, é a ação que importa.
Ainda mais recente, a morte de Audálio Dantas remete à violência contra uma classe de denunciadores que resistiu aos abusos de um poder ilegítimo. Presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, foi símbolo da luta quando Vladimir Herzog foi “suicidado”.
Com o apoio do cardeal dom Paulo Evaristo Arns, do rabino Henry Sobel e do reverendo James Wright, Dantas foi responsável pelo Ato na Sé, em 1975, que marcou o começo da derrocada do poder militar.
Papéis de profissionais e cidadãos que personificam os valores do Jornalismo
Com os respectivos papéis de jornalistas profissionais e cidadãos, a memória dos dois ADs deve ser mais que isso, deve ser a personificação de valores profissionais e pessoais de um Jornalismo que se entende por utilidade pública.
É preciso que a classe seja capaz de entender o papel na sociedade, em tempos de crise institucional e de formação, onde a ignorância parece ser norteadora. É preciso ter autocrítica e vontade de mudar; não de ser mudado.
Já existem os mártires e os grandes na história, mas a hora não é de reverenciá-los apenas com notas e obituários. É hora para criar energia capaz de colocar em movimento e iluminar os caminhos de uma nova geração de resistência.
Só assim é possível enfrentar os conformismos de nossos tempos, para que a imprensa e os profissionais possam criar novas formas de ação, mais corajosas em enfrentar os poderosos, fugindo de uma geração em síndrome de Estocolmo.
Dois grandes do jornalismo que deixam uma marca de valores / Montagem: Divulgação da TV Brasil (Dines) e do perfil de Facebook (Dantas)
Em certos momentos, as palavras e a poesia são ato de resistência; para informar, inspirar e compartilhar
Jornal Matéria Prima é produzido por alunos do curso de Jornalismo do Centro Universitário Cesumar - UniCesumar - na disciplina Técnica de Reportagem.