


Recentemente pautado nas mídias, o gênero não-binário ainda causa confusão
Gabriel Trevisan
Estudante de Jornalismo
O assassinato da jovem Matheus Passareli, também conhecida como Matheusa, maneira que gostava de ser identificada, de 21 anos no Morro do 18, favela do Rio de Janeiro, traz mais uma vez luz a questão de identidade de gênero.
Para entender o tema é necessário conhecer alguns conceitos básicos. A ideia de identidade de gênero refere-se a como a pessoa se reconhece: mulher, homem ou nenhum deles. Para algumas pessoas essa identidade corresponde ao sexo biológico: são os cisgênero. Já a orientação sexual se refere à sexualidade da pessoa e a quem ela sente atração afetivo-sexual. A orientação sexual não é necessariamente relacionada com o gênero. Uma pessoa trans pode sim, ser heterossexual, homossexual ou bissexual.
A discussão sobre identidade de gênero vem tomando força há mais ou menos três décadas no Brasíl. Um exemplo desse afloramento do tema é a da extinta revista Manchete. Em uma bela reportagem a revista estampou a modelo Roberta Close com os dizeres “ a mulher mais bonita do Brasil na verdade é um homem”, quebrando tabus desde os anos 80.
Não precisava ser homem ou mulher, era simplesmente um ser humano
Mesmo que a luta tenha aproximadamente três décadas, o tema ainda é abordado sob uma perspectiva, infeliz, de polêmica e estranheza. Isso pode ser comprovado em uma pesquisa publicada no ano passado pelo jornal Gazeta do Povo, onde revela que 87% dos brasileiros são contra o ensino da ideologia de gênero em salas de aula.
Essa forte repulsa contra a ideia de ensinar ideologia de gênero nas escolas, reflete no retrato de total desinformação da sociedade tradicional-cristã- brasileira de Taubaté a respeito do que é identidade de gênero.
Matheusa Passarelli, se reconhecia como gênero não-binário. Não precisava ser frio ou quente, rápido ou devagar, seco ou molhado, homem ou mulher, era simplesmente um ser humano, Matheusa. É exatamente disso que se trata o gênero não-binário, aqueles que independentemente do sexo biológico não se consideram homem ou mulher.
Se você acha que não se deve discutir identidade de gênero nas escolas, veja alguns comentários na editoria do Fantástico no G1 que exibia uma matéria sobre o assassinato de Matheusa. Em pergunta de um leitor “Se a pessoa não se considera homem ou mulher. Ela (a pessoa) é o que então? ” As respostas por outros leitores foram: O diabo!; retardado! (três leitores diferentes); Extraterrestre; Meu ovo!; Um bicho. A ignorância é uma doença que devasta qualquer sociedade. A educação é o remédio.
Navegante num rio de palavras, que não param de fluir de uma mente em busca do mar.
Jornal Matéria Prima é produzido por alunos do curso de Jornalismo do Centro Universitário Cesumar - UniCesumar - na disciplina Técnica de Reportagem.