


Os vilões não merecem serem intitulados como “guardiões da democracia"
Amanda Watanabe
Estudante de Jornalismo
O jornalismo deve atuar como protetor dos cidadãos dos possíveis abusos dos governantes, sendo um “guardião da democracia”, defende jornalista, pesquisador e professor Nelson Traquina. Chega a arrepiar tamanha responsabilidade embutida nos profissionais da mídia informativa. Um papel tão importante para no cenário político emblemático que vivemos em nosso país, com inúmeros casos de corrupção, como os relatados na operação Lava Jato.
Tal poder concedido a essa classe de profissionais pode ser decisivo para a sociedade, ou não. Depende nas mãos de quem o poder está. O guardião da democracia tem o poder da palavra, e pode tornar-se o vilão do avanço, da liberdade, do respeito com o próximo.
A maneira ofensiva, machista e preconceituosa que o jornalista Eduardo Bueno, conhecido como Peninha, tratou a colega de trabalho, Duda Streb, no programa esportivo Sala da Redação, da Rádio Gaúcha foi inadmissível.
Com a arrogante frase: “Tu concorda David Coimbra? Tô falando contigo que entende de futebol”, Peninha interrompe o comentário de Duda.
Não bastasse, a gota d’agua, é um jornalista, ao vivo, exercendo sua profissão, dizer para uma colega de trabalho voltar para a cozinha, pois é o lugar de onde ela “não devia ter saído”.
O pedido de desculpas, mais debochado ainda… Peninha lamenta a piada “velha, antiquada”. Com o argumento de que morou anos em Gramado, onde “deixava” a mulher dele trabalhar, enquanto ele cuidava da casa. Desde quando nós mulheres, precisamos da autorização do marido para trabalhar. Estamos de volta ao século XX e não foi avisado?
Mais contraditório ainda, foi a veiculação dessa miscigenação em uma rádio que recentemente tinha ingressado na campanha #DeixaElaTrabalhar, que luta contra o assédio moral e sexual sofrido pelas jornalistas esportivas no ambiente de trabalho.
Tal episódio fere o artigo 12, inciso IX, do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, que afirma ser dever do jornalista “manter relações de respeito e solidariedade no ambiente de trabalho”.
Não é fácil enfrentar o preconceito, mas é necessário.
Duda, que teve que ouvir todas as palavras ao vivo, se emocionou, mas não se calou. Ela exaltou a luta que as mulheres enfrentam no cenário machista em que o mundo esportivo está envolvido. E finalizou enaltecendo a posição profissional que ela ocupa e como chegou lá por mérito próprio. “
Não é admissível nenhum tipo de falta de respeito. Não é fácil enfrentar o preconceito, mas é necessário. Parabéns Duda, você nos representa. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Sul emitiu uma nota de repudio ao comentário de Peninha.
“O SindJors (…) condena que posições deste tipo, ao acentuarem as desigualdades sociais tão combatidas pelo movimento feminista, evidenciam falta de ética profissional”.
A propagação de ofensas deve ser abolida. A disseminação de preconceito no jornalismo precisa ser combatida com urgência.
Site para exaltar a imagem de uma ex-introvertida que quer ser jornalista.
Jornal Matéria Prima é produzido por alunos do curso de Jornalismo do Centro Universitário Cesumar - UniCesumar - na disciplina Técnica de Reportagem.