O tsunami de inovações tecnológicas tem causado distorções dentro das redações jornalísticas. Com a chegada da era digital, a profissão perde sua função primária, a de informar. Não importa qual seja o meio de comunicação, está cada vez mais evidente somente o interesse mercadológico das mídias.O jornal O Globo, nos mostra em suas coberturas sobre a intervenção federal no Rio de Janeiro, como deixar o Código de Ética do Jornalismo de lado. A grande mídia, negligente, assume posição de agência publicitária, que só pensa em vender um produto em vez de ser o guardião da verdade.O anúncio de página dupla da edição do Globo, do dia 22 de fevereiro, silenciou qualquer dúvida sobre o objetivo da intervenção no Rio, além de deixar claro o desinteresse da grande mídia de retratar o atual momento de caos que o Estado está passando. O texto reproduz o discurso do presidente Michel Temer que anuncia: “O governo, que está tirando o país da maior recessão da sua história, agora vai tirar o Rio de Janeiro da violência”.
 Rio: Campanha eleitoral disfarçada em campanha de governo ( Reprodução / Campanha publicitária Secom )
o jornal retratou apenas o lado a favor da intervenção e de uma política satisfatória
A campanha publicitária é uma construção eleitoral de quem quer se lançar na candidatura. O presidente se escora na intervenção que acabou de começar e não apresenta nenhum dado positivo, muito pelo contrário. Segundo pesquisa Datafolha divulgada no fim do mês de março, 71% da população não viu mudanças no combate à violência após chegada dos militares.
A cobertura do jornal O Globo tem utilizado a influência do jornalista sobre a sociedade de maneira errada. O quarto poder está em risco, porém é ingenuidade demais do jornal tentar aplicar uma falsa sensação de controle e aceitação política de um governo impopular, ainda mais na era digital, onde os leitores interagem cada vez mais com a informação.
Não bastando a campanha, outra edição do jornal O Globo traz uma entrevista com o general Richard Fernandez Nunes, responsável pela intervenção federal e marqueteiro do presidente Temer, em que ele diz que o Exército levará ações sociais às favelas cariocas e que uma das suas missões é diminuir o número de confrontos armados.
Mais uma vez não houve aprofundamento de como as causas poderiam ser resolvidas e tudo não passou de uma campanha política que utiliza teorias ultrapassadas do jornalismo, como a teoria hipodérmica (modelo que compara a mensagem à injeção de uma seringa).
Em nenhuma das edições a população foi ouvida, deixando de lado outra função primordial do jornalismo, contar histórias e ouvir os personagens. E se isso não bastasse, o jornal retratou apenas o lado a favor da intervenção e de uma política satisfatória, fazendo existir uma espiral do silêncio que obriga o lado contrário a se calar. |