


O prazer de ver a casa em ordem acabava depois da porta do meu quarto
Láiza Maciel
Estudante de Jornalismo
Finalmente em casa, o dia foi completamente exaustivo. Estava esgotada. Começa a segunda parte. Casa, filhos, marido, cachorros e todo aquele papel de dona de casa. Meu corpo suplicava por alguns minutos de descanso. Podia ser ali, sentada no braço do sofá já que as crianças ocupavam o restante dos assentos com os cachorros.
Me restavam poucas forças. E ainda tinha que dar banho na Juju, pentear o seu cabelo todo bagunçado e fazer uma bela trança, porque as suas amiguinhas na escola combinaram de ir com penteado. Os cachorros me deixaram maluca com todos aqueles latidos, pedindo ração. A máquina de lavar parou de funcionar de novo, na metade do ciclo da lavagem. Mal sabia ela que ainda me restavam dois cestos de roupa suja para esta noite.
Enquanto isso papai chegou do trabalho, deixou as chaves sobre a mesa, pegou o controle da TV e correu para descansar na poltrona. Não me perguntou como foi o meu dia, não brincou com a Juju, não se ofereceu para me ajudar com o jantar nem com os cachorros. Seu descanso era mais importante do que saber como estava a sua família.
O dia parecia não ter fim, porém o meu limite já havia se dado por vencido. Depois de cumprir todas aquelas funções de mãe, mulher, dona de casa e independente que sou, restava a pior missão: O prazer de ver a casa em ordem acabava depois da porta do meu quarto.
No último golpe da noite, caí no chão do quarto, senti minha alma desprender do meu corpo
Entro no banheiro, ligo o chuveiro e coloco meu corpo embaixo de uma chuva de água quente. O vapor que embaçava o box ajudava a aliviar as dores físicas e da alma. Sem nenhuma pressa, passo o sabonete sobre todo o meu corpo. Me enrolo na toalha e sobre a cama encontro uma bela lingerie vermelha. Eu a visto, me olho no espelho e me julgo pronta para o massacre.
Meu marido me olha nos olhos, fico apavorada. Sinto vontade de gritar, mas permaneço em silêncio para não assustar as crianças. O primeiro beijo não passa de uma demonstração de carinho. Em seguida, ele me joga contra a parede e acaba com todas as minhas forças em uma prática sexual abusiva. Sou agredida para satisfazer os prazeres obscuros do meu marido. Naquele momento meus pensamentos só procuravam soluções para esconder todos aqueles hematomas no dia seguinte.
Desejei que aquela noite chegasse ao fim. Chegou com um gosto amargo, marcas de sangue nas paredes, olho roxo, acompanhado de dores fortes no peito. No último golpe da noite, caí no chão do quarto, senti minha alma desprender do meu corpo. Era o fim. Mas tudo isso se repetiria no dia seguinte.
Violência contra a mulher é crime, ligue 180. E denuncie.
Jornal Matéria Prima é produzido por alunos do curso de Jornalismo do Centro Universitário Cesumar - UniCesumar - na disciplina Técnica de Reportagem.