


Não era de se duvidar que iria deixar para fazer tudo no último dia
Weverton Klein
Estudante de Jornalismo
Aquele tic-tac do relógio já começava a irritá-lo. O objeto, de uma era quase paleolítica, insistia em lembrá-lo que o tempo estava passando e que restava-lhe poucas horas para finalizar aquele projeto, cujo nem sequer havia iniciado.
Decerto que teve muito tempo para fazê-lo, mas ele tinha nas veias o sangue de um verdadeiro brasileiro. Então, não era de se duvidar que iria deixar para fazer tudo no último dia. Afinal, não poderia recusar aquele convite para o chope, nem de bater aquela bolinha com os colegas. Tinha tempo e insistia nessa desculpa quando o consciente lhe lembrava do prazo final.
Tinha tempo e insistia nessa desculpa quando o consciente lhe lembrava do prazo final
Mas agora, o tic-tac contínuo daquele relógio bagunçava-lhe os pensamentos e também os cabelos. Começava, naquele momento, a entrar na pior fase, a do desespero. E quando se está neste momento, é fato que tudo lhe pareça ocorrer de modo a lhe atrapalhar. O telefone toca, a luz acaba e um meteoro cai na cidade. E, o pior de tudo, você continua vivo e com um projeto para entregar, porque, cá entre nós, nenhuma desculpa é capaz de justificar o atraso, nem mesmo se um cachorro comeu o trabalho ou se havia trânsito na cidade por causa de um Ovni que parou em fila dupla.
Se há um prazo, é óbvio que deve cumprir. Ou deveria. Mas, sejamos honestos, estamos no Brasil. Único prazo que se cobra mesmo é o do pagamento do boleto, porque o resto, oras, sempre se dá um jeitinho. Aliás, tenho minha teoria de que Deus não é brasileiro, até porque se fosse, não teria terminado de construir o mundo em seis dias e ainda tirado um de folga. Pelo contrário, provavelmente teria pedido uma prorrogação no prazo e mais um aumento na verba.
Mas, prosseguindo, nosso amigo respirou fundo. O ar invadiu os pulmões e as ideias, a cabeça. Agarrou o celular e ligou para o chefe. Nem o esperou falar e logo foi vomitando a desculpa mais esfarrapada que lembrou. O chefe, compadecido, não pensou duas vezes antes de lhe aumentar o prazo.
- Entrega na próxima semana, disse.
Agradecido e em completo alívio, largou o celular sobre a mesa. Esse, contudo, logo vibrou. Era um amigo e o convite mais irrecusável do mundo. Já estava digitando um “bora”, quando o consciente lhe avisou de um tal projeto para terminar. Ignorou, afinal, ainda tinha mais uma semana. Dava tempo.
Jornal Matéria Prima é produzido por alunos do curso de Jornalismo do Centro Universitário Cesumar - UniCesumar - na disciplina Técnica de Reportagem.