


Olhar preconceituoso e sexista da mídia contribui para que futebol feminino não tenha visibilidade no país
Adelson Jaques
Estudante de Jornalismo
O futebol feminino foi proibido por lei por muito tempo em nosso país. Entre as décadas de 1940 a de 1980, a modalidade foi considerada “caso de polícia”, pois as mulheres vistas jogando eram encaminhadas até a delegacia mais próxima. Por isso, a modalidade se desenvolveu de maneira tardia no Brasil.
Até hoje, o futebol feminino não é considerado profissional e é pelo que luta Marta Vieira da Silva, bicampeã do Pan-Americano, duas medalhas de prata em olimpíadas, vice-campeonato mundial e ganhadora do prêmio da Fifa de melhor jogadora do mundo por cinco vezes consecutivas. O currículo dela é extenso, mas a conquista que a jogadora mais almeja é a profissionalização do futebol feminino no Brasil.
Hoje, no país, o futebol feminino é visto de forma muito preconceituosa e inferior ao futebol masculino. Desde o perfil físico das mulheres, que muitas vezes é visto como incompatível para praticar um esporte tão exigente, até o preconceito daqueles que ainda acham que a mulher tem que ficar em casa, cuidando dos filhos, enquanto o marido joga porque futebol “é coisa para homem”.
Falta um olhar sem preconceito e menos machista da sociedade brasileira para enxergar que o futebol também pode ser praticado pelas mulheres, olhar esse que deve ser estimulado a mudar principalmente pela mídia.
“lugar de mulher é na cozinha”.
É isso que tem de mudar.
O apoio e a visibilidade que a mídia dá ao futebol masculino não são os mesmos oferecidos ao futebol feminino. Exemplo recente vem do Flamengo, time de maior torcida do Brasil, que foi campeão brasileiro de futebol feminino. Quem soube da final? Quem se interessou por essa final? Somente um canal de TV a cabo transmitiu esse jogo. Nenhuma emissora de TV aberta comentou a decisão, tão importante porque também acabou com a hegemonia paulista. O jogo não foi transmitido, muito menos comentado depois. Tivesse ocorrido o contrário, isso seria de grande ajuda para a maior visibilidade desse esporte praticado também por mulheres.
Exemplos como esse, de descaso e da falta de um olhar que torne o futebol feminino algo atrativo, existem aos montes. É preciso envolvimento da mídia. A transmissão do futebol feminino traz mais patrocinadores para o esporte e, claro, contribui para reduzir o preconceito.
Marta atual camisa 10 da seleção feminina de futebol chegou ao 15º mundial, igualando-se a Ronaldo Fenômeno, mas qual repercussão a mídia deu a esse feito? Praticamente nenhuma.
O fato é que a grande imprensa só abre espaço para divulgar esportes que tragam retorno financeiro imediato. Por isso, podemos observar que no futebol feminino há poucos patrocinadores. Não patrocinam porque sabem que não há divulgação, ao contrário do que ocorre com o futebol masculino.
Ainda predomina a cultura de que a mulher tem de ser frágil, estar sempre bem arrumada e bonita, não podendo suar nem praticar esportes de contato, como o futebol. Os que pensam dessa maneira são os mesmos que acham que o “lugar de mulher é na cozinha”. É isso que tem de mudar. Mulher também pode praticar futebol e para que o Brasil não continue atrasado em relação a outros países americanos e europeus o incentivo para a visibilidade da mulher nesse esporte deve começar pela mídia.
Jornal Matéria Prima é produzido por alunos do curso de Jornalismo do Centro Universitário Cesumar - UniCesumar - na disciplina Técnica de Reportagem.