


A OMS recomenda o parto mais natural possível, mas algumas ações hospitalares sugerem práticas criminosas
Thais Ribeiro Dias
Aluna de Jornalismo
A violência obstétrica, não é um “azar” que a paciente deu
(Ilustração/Thais Ribeiro Dias)
A violência obstétrica no Brasil é muito mais comum do que se imagina e, infelizmente, não é um “azar” que a paciente deu. É uma prática adotada por vários hospitais pelo Brasil. “No momento mais bonito da minha vida tive que sofrer calada, porque uma enfermeira me mandou não gritar, disse que eu assustaria as outras mães”, afirma Renata Kelly de Oliveira Mafra 20, que em 2014 teve o primeiro filho e só depois descobriu que fez parte de uma estatística criminal, afinal de contas violência de qualquer espécie é crime.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o parto mais natural possível. Mas, segundo pesquisa de 2015 do projeto Nascer no Brasil, 36% das mulheres, a partir do momento em que entram no hospital, recebem ocitocina (substância utilizada para acelerar o processo de parto) e 39% têm a bolsa (membrana que envolve o feto) rompida artificialmente, sem a permissão da parturiente.
De todas as violências sofridas, a que mais acontece é a manobra de kristeller (aplicação de pressão na parte superior do útero com o objetivo de “facilitar” a saída do bebê), mas ao em vez de reclamar as pacientes agradecem, acham que isso é ajuda, quando na verdade é pressa de acabar com o parto. A segunda entre as maiores violências que as mulheres consideram psicologicamente marcantes e totalmente desumanas é o fato de não poderem ter tido ninguém ao lado delas na hora do parto. É o que acontece com 71% das parturientes. Elas desconhecem a lei n. 11.108/05, que prevê que os “serviços de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS), da rede própria ou conveniada, ficam obrigados a permitir a presença, junto à parturiente, de um acompanhante durante todo o período de trabalho de parto, parto e pós-parto imediato”.
No momento mais bonito da minha vida tive que sofrer calada
Esses e outros tratamentos desrespeitosos e frustrantes em um momento tão delicado fazem com que muitas mulheres sintam ansiedade por outra na tentativa de substituir as péssimas memórias, mas o esquecimento não significa problema resolvido, e sim problema “apagado”. O problema só será resolvido se contar com a denúncia, ocasionando assim a fiscalização e punição dos envolvidos. Por isso, a melhor estratégia é a divulgação.
Assim como campanhas contra dengue, zika vírus e febre chikungunya deveria haver mobilização para se falar da violência obstétrica. Os direitos são menos violados a partir do momento em que as pessoas sabem que os têm.
Jornal Matéria Prima é produzido por alunos do curso de Jornalismo do Centro Universitário Cesumar - UniCesumar - na disciplina Técnica de Reportagem.