


De casa em casa, vendendo panos de prato, ambulante tenta compensar a perda do auxílio-doença, única fonte de renda
Natalia Sanches
Aluna de Jornalismo
A timidez a impede até mesmo de permitir ser fotografada
(Imagem/Natália Sanches)
Quem a vê na rua, não imagina tudo o que ela enfrenta todos os dias. É nas ruas do conjunto Borba Gato, zona sul, que Maria de Lima, 50, passa os dias. Com roupas simples e se protegendo do sol com um boné, a vendedora ostenta um olhar de muitas decepções. A timidez é tanta que a impede até mesmo de permitir ser fotografada pela reportagem.
Engana-se quem pensa tratar-se de uma moradora de rua. Na verdade, Maria de Lima faz o mesmo trajeto todos os dias, tanto no Borba Gato como em outros bairros de Maringá, vendendo panos de prato.
Ela conta que foi criada pelos avós e começou a trabalhar aos 7 anos, pois se não trabalhasse, não comia. “Eu ia na roça, buscava água, comida para os trabalhadores e, por isso, não estudei. Tem gente que me vê na rua, maltratada, e acha que é efeito de cigarro, álcool ou até alguma droga. Não é. É maltrato da vida, dos problemas.”
Após uma anestesia mal aplicada na coluna, Maria perdeu o movimento das pernas por cinco anos, dependendo de uma cadeira de rodas. Mas, como ela mesma diz, com muita fé em Deus conseguiu voltar a andar, mesmo não aguentando carregar peso de cinco quilos. Após a “melhora” na saúde, perdeu o auxílio-doença, única fonte de renda que tinha na ocasião.
Tem gente que me vê maltratada e acha que é efeito de cigarro, álcool ou até alguma droga
De acordo com Ana Marchesini, estudante de direito que presta assistência jurídica a famílias de baixa renda o auxílio doença é um benefício concedido ao segurado que encontra-se incapacitado temporariamente. A duração do benefício é determinada por meio de perícia. “Já se a doença é irreversível, o segurado passa a ser considerado incapaz, fato que lhe garante a aposentadoria por invalidez.”
Por conta disso, Maria de Lima teve de começar a vender panos de prato nos bairros de Maringá, para tentar sobreviver e mesmo com essa “ajuda”, ganha no máximo R$ 40 por dia. No Borba Gato, ela já conquistou clientes. É o caso de Sandra Lasalle, 47 anos. “Sempre compro, pois são de qualidade e são úteis. Sempre a vejo por aqui muito cedo, dá para perceber que batalha mesmo para conseguir viver.”
Mesmo que exista muita gente que queira ajudar a comprar os panos de prato de Maria, ela também é muito discriminada. “Tem gente que vira a cara, não responde. Me perguntam se eu não quero dinheiro para droga, beber. Uma vez eu estava chegando na UEM [Universidade Estadual de Maringá] e umas meninas jovens tiraram o sarro de mim. Só que na volta elas estavam vendendo droga. Isso não é pior?”, indaga.
Jornal Matéria Prima é produzido por alunos do curso de Jornalismo do Centro Universitário Cesumar - UniCesumar - na disciplina Técnica de Reportagem.