


Perdeu-se a distinção entre essencial e supérfluo, no momento em que o prazer vira causa primordial para as compras
Nayara Sakamoto
Aluna de Jornalismo
- É comum trocar o telefone celular por outro aparelho lançado recentemente em menos de oito meses?
- Sim.
- E substituir o videogame novo em um ano?
-Também.
O artigo a seguir é inspirado nesse dialógo comum. Porém, não deveria ser normal. Só em 2005, mais de 100 milhões de aparelhos foram parar em lixeiras nos Estados Unidos. “Motivos” para essas ações não nos faltam. Um deles, por exemplo, é o tempo que as câmeras fotográficas atualizam o dispositivo “flash” que, por vezes, são mais velozes que o andamento da fila no SUS (Sistema Único de Saúde). Precisamos estar, constantemente, atualizados. Para isso, aparelhos eletrônicos que caem em desuso devem ser, rapidamente, descartados. Bem-vindo ao mundo da obsolescência planejada.
Vivemos nossos dias aprisionados na “armadilha silenciosa” projetada para a sociedade de consumo, na qual o modelo de crescimento econômico é pautado na aceleração do ciclo capital. Ou seja, toda produção atual dura menos que há dez anos, que dura menos que há 20 anos…e que vai durar menos ainda daqui alguns anos. À estratégia de construir com prazo de validade, atribui-se o termo obsolescência planejada.
A publicidade tem papel fundamental para o desenvolvimento dessa sociedade, pois é por meio desse mecanismo que nos são apresentados apelos que estimulam nossos sentidos. Serge Latouche, no documentário A história secreta da obsolescência planejada, diz que nossa necessidade de consumir é sustentada por três aspectos: publicidade, crédito e obsolescência.
Progresso e felicidade na sociedade de consumo soam retrocesso mental
O sociológo polonês Zygmunt Bauman, em seu livro Vida para consumo, convida-nos para a reflexão sobre o processo de construção da identidade das pessoas na sociedade de consumidores. Bauman sugere que, para aumentar o acúmulo de riquezas privadas, o capital destrói, esgota e devasta a “mãe” natureza. “Só a sociedade moderna pensou em si mesma como uma atividade da ‘cultura’ ou da ‘civilização’ e agiu sobre esse autoconhecimento.”
Devemos nos atentar para as metas. Sim, precisamos estabelecer metas. O PIB (Produto Interno Bruto) não pode ser encarado como uma taxa que deve estar sempre superando os índices. Não faz sentido pensar em crescimento infinito quando temos um planeta finito. Não se trata de regredir ao tempo das cavernas, e sim de racionalizar sobre sermos pessoas de atitudes ou meros marionetes da indústria. Progresso e felicidade ancorados na sociedade de consumo soam retrocesso mental.
Não devemos parar por aqui. Há muitos aspectos que devem ser tratados dentro da enraizada cultura de consumo exacerbado. Contudo, é fundamental discutirmos obsolescência planejada e, com isso, estabelecer novas perspectivas que valorizem a natureza e a presença humana no lugar do presente.
Jornal Matéria Prima é produzido por alunos do curso de Jornalismo do Centro Universitário Cesumar - UniCesumar - na disciplina Técnica de Reportagem.
Achei um ótimo texto! Muito bom.