


Entre devaneios, cigarros, amigos e o futuro, deixo-me levar pelos meus temores para reforçar minha fé sobre a amizade
Paulo Rodrigues
Aluno de Jornalismo
Não consigo deixar de pensar no meu futuro. Sonho e me vejo daqui alguns anos. Moro fora, trabalho num jornal importante e conheço meu parceiro. Vivo num apartamento pequeno e aconchegante para meus dias solitários e tenho a sala que sempre quis: sofá-cama, tevê, videogame e uma mesa de centro com cinzeiro, meus cigarros mentolados e isqueiro. Frequentemente vou à cafeteria local tomar um café irlandês ou faço um circuito de bares e pubs com meus amigos e colegas de trabalho. Aparentemente perfeito, mas não o é.
Não há cura para a saudade daqueles que, permanentemente, estão afastados
Tenho também porta-retratos de todos aqueles que deixei para trás quando parti do país. Minha família no centro e meus amigos ao derredor. São fotografias dos momentos felizes, dos sorrisos fieis e de períodos importantes para mim. Estão todos ali, sem exceção. Não pude trazê-los comigo nem deixá-los para trás. Não posso tocá-los ou senti-los. Somos parte de um todo divididos e espalhados. Ora, as amizades são aquilo que tenho de mais valioso, pois foram meus amigos que me mostraram o mundo e, juntos, pintamos o quadro da minha vida. É difícil abrir mão daquilo que mais nos vale. Quem sou eu, porém, para chamar a amizade infinita, se somos nós finitos?
As amizades forjadas entre as felicidades e os dissabores (Foto: Laryssa Cunha)
Toda amizade perdura, mas também definha. Tudo tem prazo de validade, seja a morte ou a distância. Já cantava George Harrison, quem muito admiro, que tudo há de passar, as felicidades e os dissabores, num dos registros mais belos que já ouvi (“All things must pass”, 1970). Triste é compreender um futuro no qual aqueles que me ajudaram a forjá-lo não se encontram presentes. Sinto-me só. Sinto-me incompleto e transparente longe daqueles a quem jurei, internamente, eterna lealdade.
Não há cura para a saudade daqueles que, permanentemente, estão afastados. Não há fotografias, cafés irlandeses, cigarros ou bares que preencham a alma. Há, sim, as amizades presentes e o tempo que corre. Impossível não imaginar um enorme relógio que contabiliza as horas restantes que passaremos juntos, nas aulas, nos bares, nos encontros de fim de semana, nos momentos felizes e nas tristezas conjuntas. Meus amigos me permitem ser quem sou, e ser quem sou me permite aproveitá-los, amá-los e carregá-los comigo, perto ou longe, até o fim.
Afinal, tudo há de passar.
Jornal Matéria Prima é produzido por alunos do curso de Jornalismo do Centro Universitário Cesumar - UniCesumar - na disciplina Técnica de Reportagem.
Perfeito! A cada frase me identifico com o texto. Me fez relembrar momentos, parabéns!!
O começo me pareceu um filme, adorei imaginar cada cena. Texto um tanto carinhoso em meio a tantas possibilidades de temas que poderia ter escolhido. Algumas contradições me deixaram confusa, mas não sei se era a intenção. Bacana (: