


Estudo comprova que o noticiário de maior audiência, o Jornal Nacional, é usado como instrumento de oposição ao governo
Maria Isabel Corrêa
Aluna de Jornalismo
A postura de Bonner na entrevista com Dilma foi criticada (Reprodução/Rede Globo)
Na segunda-feira, 18 de agosto, o Jornal Nacional (JN) continuou a série de entrevistas com candidatos à Presidência da República, interrompida pelo acidente que matou o candidato Eduardo Campos (PSB), e mais seis pessoas, em Santos, na semana anterior. Com postura supostamente agressiva durante a entrevista, o apresentador Willian Bonner gerou várias discussões sobre o comportamento dele na bancada do JN.
Um levantamento realizado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (uerj) comprovou que o Jornal Nacional, da TV Globo é usado como instrumento de oposição ao governo. O estudo chamado de “manchetômetro” pelos membros do Laboratório de Estudo de Mídia e Esfera Pública da universidade, concluiu que o JN veiculou mais notícias negativas contra a presidente Dilma Rousseff (PT) do que contra os adversários. De acordo com os gráficos desse levantamento, o JN dedicou uma hora e 22 minutos este ano para notícias desfavoráveis ao governo, contra três minutos para reportagens que estivessem falando bem.
O debate decisivo das eleições de 1989 realizado pela Rede Globo entre os então candidatos à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor de Mello foi um exemplo de manipulação de conteúdo feito pela emissora. Em entrevista concedida em 2011 à Globo News, Jose Bonifácio Sobrinho, o Boni, para promover o lançamento da obra, “O Livro do Boni” confirmou a manipulação editorial do JN naquela ocasião.
O JN veiculou mais notícias negativas contra a presidente Dilma Rousseff (PT) do que contra os adversários
Segundo ele, a emissora comprou a causa de Fernando Collor. “Eu achei que a briga do Collor com o Lula nos debates estava desigual, porque Lula era o povo e Collor a autoridade”, comentou. “Então conseguimos tirar a gravata do Collor, colocar um pouco de suor com uma ‘glicerinazinha’ e pôr as pastas todas que estavam ali com supostas denúncias contra o Lula – mas as pastas estavam inteiramente vazias ou com papéis em branco”, revelou Boni.
Na entrevista com a candidata Dilma Rousseff, Bonner deixou de ser entrevistador para investir em outra função, a de editor-chefe. No caso específico, mais chefe que editor. Impressionou também em acuar Dilma, sobrepondo-se, muitas vezes, à jornalista Patrícia Poeta.
A postura e a forma incisiva como foram feitas as perguntas, com falta de educação ou simples pirraça, como nas ocasiões em que o entrevistador aparenta não gostar da resposta dada, pode passar a impressão de que William Bonner e Poeta são “parciais” e “apertam” os entrevistados de forma incerta. No entanto, os temas e até mesmo a linguagem usada mostra que não houve igualdade no tratamento dado aos candidatos.
Dessa forma é difícil acreditar que um veículo de comunicação que foi cúmplice de ditadores, que adulterou a edição de um debate presidencial, possa hoje ter alcançado o bastião da ética e moral em rede nacional.
Conversadeira, ama ouvir histórias e contá-las. Identifica-se com o jornalismo e é apaixonada pela família.
Jornal Matéria Prima é produzido por alunos do curso de Jornalismo do Centro Universitário Cesumar - UniCesumar - na disciplina Técnica de Reportagem.