


Ainda vai ser preciso discutir, em algum momento, se Mundial no Brasil compensou os altos investimentos
Jefferson Martins
Aluno de Jornalismo
Os protestos contra a Copa do Mundo se espalharam pelo país (Foto: Antônio Cruz/ABr)
O assunto das rodas de bares, nas praças, no comércio, em redes sociais no Brasil e no mundo é a Copa de 2014. E o tanto que esse mega evento esportivo custou também. Em entrevista a diversos portais da internet Alexandre Guimarães, consultor do Senado, concluiu com base em estudos feitos por institutos econômicos internacionais, que no Brasil o gasto será maior que a soma dos investimentos das últimas três Copas. Segundo ele, os mundiais de Japão e Coreia (2002), Alemanha (2006) e África do Sul (2010) consumiram, juntos, US$ 30 bilhões (US$ 16 bilhões, US$ 6 bilhões e US$ 8 bilhões, respectivamente). Já no Brasil, segundo o próprio governo, os gastos chegam a US$ 40 bilhões.
No que diz respeito ao turismo e comércio durante o evento, o que se falou logo no início da Copa era de que não havia expectativas positivas – o que só vai ser realmente confirmado após o evento. Apesar de muita preparação e dinheiro gasto, existem aspectos a desejar, como declarou, Fabrizio Quirino, gestor de comunicação e marketing da Associação Empresarial e Comercial do Brasil (Aceb), antes do evento. ”A preparação para a Copa está sendo feita pensando em atender de maneira devida essa demanda nacional e internacional. Porém, temos dois problemas a enfrentar: a falta de infraestrutura comercial e a concorrência, que será forte, o que deixa todos com o pé atrás.” Já estamos na metade do Mundial e, aparentemente, esses “fantasmas” não estão assustando ainda.
Uma questão para se avaliar logo após a Copa: houve muitos reajustes em orçamentos das obras das arenas, da infraestrutura urbana e de transporte. A pergunta que se faz é: essas obras serão de valia para a sociedade? Como declarou Ronaldo Fenômeno, que integrou o comitê organizador do evento no Brasil, ”não se faz Copa do Mundo com hospitais e sim com estádios. A decisão sobre investimentos existe, mas temos que ver o que é prioridade”. Porém,o mais importante são os hospitais ou os estádios? ”A ideia de que a Copa vai impulsionar a economia é um mito”, disse à BBC Brasil o jornalista britânico Simon Kuper, autor de Soccernomics, escrito em parceria com o economista britânico Stefan Szymanski.
Cabe à sociedade cobrar e insistir que toda essa infraestrutura seja concluída e reverta em benefícios para ela própria
“Os projetos que eram importantes para a sociedade e que efetivamente iriam impactar positivamente na economia depois da Copa não existem”, completou também à imprensa José Matias-Pereira, professor de administração pública da UnB. “Se principalmente os projetos de mobilidade tivessem saído do papel, o reflexo no crescimento do PIB seria muito maior.”
Otimista - e não poderia ser diferente - a presidente da República, Dilma Rousseff, minimizou o problema: “Gostaria de dizer que essa, sem dúvida nenhuma, é a Copa das Copas, primeiro porque eu acredito que o mundo tem grande admiração, acompanha o futebol, o futebol é um esporte disseminado por todos os países do mundo”.
O sucesso da Copa no Brasil é real, mas em algum momento vai ser preciso discutir se o Mundial aqui compensou os altos investimentos feitos para que o espetáculo tivesse o brilho que merece. Quanto ao que deixou de ser feito ou não ficou pronto a tempo para a Copa, cabe à sociedade cobrar e insistir que toda essa infraestrutura seja concluída e reverta em benefícios para ela própria. E que as lições do Mundial de 2014 sejam aprendidas por todos porque há outra realidade chegando ao país: as Olimpíadas de 2016.
Jornal Matéria Prima é produzido por alunos do curso de Jornalismo do Centro Universitário Cesumar - UniCesumar - na disciplina Técnica de Reportagem.