


Casal mais antigo do Cidade Monções tem na vizinhança casas grandes, jardins com piscina e mais de um carro na garagem
Amanda Oliveira
Aluna de Jornalismo
O Jardim Cidade Monções, região sul de maringá, abrange diversos condomínios e sobrados de luxo. É fácil trocar duas letras do nome do bairro e obter uma definição do que mais encontramos por lá: mansões. Porém, ali mesmo, em meio a carrões e câmeras de segurança – que estão por toda parte – uma figura se destaca em uma rotina desgastante: um homem, montado numa bicicleta, percorre o bairro catando papelão.
Fiquei na UTI, fui encostado e até hoje tomo remédios. Só perdi dinheiro
É dessa maneira que o aposentado Antônio Honório dos Santos, 74, complementa a renda para sobreviver. Segundo ele, a quantia que recebe da aposentadoria não seria suficiente para viver, sustentar a mulher – que não conseguiu se aposentar – e alimentar a família, que conta com 16 netos e 10 bisnetos, que almoçam na casa humilde de Santos todo fim de semana. O dinheiro do papelão amplia o orçamento. “Fui atropelado quando ainda trabalhava e sofri traumatismo craniano. Tenho certeza que o motorista subornou o policial, pois contratei advogado e não consegui provar que ele estava errado. Fiquei na UTI, fui encostado e até hoje tomo remédios. Só perdi dinheiro”, relata.
Já teve casa com traficante, com bagunça. Mas vai fazer o quê? Brigar com vizinho?
A mulher do aposentado, Maria da Silva Santos, 71, relembra que, quando ambos chegaram ao bairro, há 30 anos, só havia mato no local. Foi no chão sem asfalto que a dona de casa criou os seis filhos e construiu relação de amor e ódio com o Monções. Ela diz conhecer todos os vizinhos e ter amizade com vários. “Mas sempre tem complicação, né? Tem uma casa que parece abandonada, é suja. Inclusive, já liguei para o disque-denúncia, pois havia um enxame muito grande que estava pertinho do meu muro. Já teve casa com traficante, com bagunça. Mas vai fazer o quê? Brigar com vizinho?”, questiona.
Sobre o bairro em geral, dona Maria diz ter segurança e tranquilidade, mas reclama da falta de serviços disponíveis. “Você pode sair e deixar o portão aberto que ninguém mexe. É um bairro ótimo. Só que a gente sente falta de uma ginástica [referindo-se à Academia da Terceira Idade], uma padaria, farmácia, posto de saúde. É tudo muito longe”, pondera. Questionada sobre o porquê de não se mudar, dona Maria é firme: “aqui é nosso lugar”. Apesar de todos os paradoxos, parece fazer sentido.
Antônio, Maria e a bicicleta que ajuda no sustento do casal (Foto: Amanda Oliveira)
Escritora desde sempre, busca respostas (e, depois, mais perguntas) e flerta com cultura e arte.
Jornal Matéria Prima é produzido por alunos do curso de Jornalismo do Centro Universitário Cesumar - UniCesumar - na disciplina Técnica de Reportagem.