


Bem no centro da cidade, Residencial Anabella tem uma das maiores concentrações de condôminos com mais de 60 anos
Victor Rossi
Aluno de Jornalismo
Edifício Anabella é um dos mais antigos da cidade (Foto: Victor Rossi)
Inaugurado em 1976, o Edifício Residencial Anabella poderia ser apenas mais um entre tantos construídos no coração da cidade. Mas chama a atenção não pela idade ou características arquitetônicas, e sim pela grande quantidade de sexagenários que mora ali. Dos 64 condôminos registrados (donos de apartamento), o edifício tem nada menos do que 29 com mais de 60 anos. Num simples cálculo matemático é possível contabilizar nessa estrutura de 16 andares, no mínimo mais de 1.740 anos de histórias de vida.
Como não dirijo, muito menos tenho carro, aqui fica tudo mais pertinho, mais fácil de se locomover
O fato desperta a atenção tanto dos que visitam o Anabella como dos próprios moradores, mais jovens. O que ajuda a compreender o fenômeno está na própria história do crescimento de cidades como Maringá. As primeiras construções verticais se concentraram na região central e não seria tão improvável constatar que a maioria dos sexagenários do Anabella está ali desde a inauguração do edifício.
Continuar morando hoje no antigo “arranha-céu” da avenida Santos Dumont é mais do que preservar a memória dessa verticalização. Para muitos desses homens e mulheres que já passaram dos 60, é a facilidade de estar perto de tudo: bancos, mercados, clínicas e praças.
“Como não dirijo, muito menos tenho carro, aqui fica tudo mais pertinho, mais fácil de se locomover. Achei a localização ideal’’, explica Izelda Theresina Trizotto, 75 anos. A moradora tem na ponta da língua a quantidade de farmácias próximas ao edifício, “seis no total”, e brinca que esse é um forte motivo para morar ali.
A síndica Lourdes Sardi está entre os moradores com mais de 60 (Foto: Victor Rossi)
Com quase 40 anos, o Anabella foi projetado para uma época em que automóvel ainda era para poucos. Hoje, para driblar o problema da falta de garagens, os velhos e novos vizinhos deram um jeitinho curioso ao espaço, subdividindo as vagas com cones e garantindo estacionamento para todos.
“O grande fator é que todos aqui se dão bem. Todos têm o prazer de ajudar uns aos outros, principalmente os de mais idade”, diz Lourdes Marlin Sardi, 63 anos, moradora e síndica do edifício há dois anos. Nem mesmo as normas do condomínio são motivos para conflito. ‘‘Dificilmente o prédio tem problemas. Quando tem, já mando notificação’’, diz, com a firmeza de quem tem a voz da experiência.
Tantas pessoas de mesma faixa etária (no caso, acima de 60) reunidas em um mesmo local pode representar benefícios a todo o grupo. É o que explica a psicóloga Lorena Munhoz da Costa, especialista em adultos. Segundo ela, por causa da idade, alguns tendem a acreditar que perderam a importância e entram em depressão.
Lorena diz que os idosos precisam se relacionar com os demais, num processo inclusivo que combate a ociosidade, em especial daqueles que são viúvos. Para isso, ela sugere aos moradores do Residencial Anabella que desenvolvam atividades comuns entre eles, como uma boa conversa, jogos de cartas e até assistirem junto a novela. “Pela experiência acumulada durante a vida, essas pessoas encontram nessas atividades alguns fatores que ajudam a relembrar momentos marcantes de cada uma”, diz, explicando que isso ajuda a estimular principalmente a concentração. (V.R.)
Fã dos esportes, encontrou no Jornalismo uma chance de conhecer o mundo e suas singelas histórias.
Jornal Matéria Prima é produzido por alunos do curso de Jornalismo do Centro Universitário Cesumar - UniCesumar - na disciplina Técnica de Reportagem.