


A difícil e desafiadora tarefa de sobreviver a uma entrevista de emprego quando a inexperiência é a principal aliada
Priscila Dias
Aluna de Jornalismo
Ela esperava ansiosamente a chegada das 13h30. Pela primeira vez a jovem universitária sentia na pele o misto de emoções da primeira entrevista para uma vaga de estagiária. De início, achou que seria a única candidata. Se surpreendeu com a chegada de mais dois, aparentemente muito mais preparados que ela, e se deu por vencida. Lembrou-se das vezes que sua avó lhe dizia que vida de adulto não é de longe a fase mais fácil da vida.
De repente ouviu seu nome. Gelou. Seguiu, lentamente, o gerente da empresa. As pernas bambas desde o primeiro passo. O homem, bem vestido e simpático, pediu para que sentasse na cadeira a frente da sua e, sem perder tempo, começou a questioná-la sobre sua vida pessoal. A candidata inexperiente estranhou as perguntas. Achou que o ‘cara engravatado’ estava se aproveitando da hierarquia que existia entre eles para, quem sabe, investir em algo que não se limitava a assuntos da empresa.
Irritou-se. Respondia as perguntas íntimas e, ao mesmo tempo, questionava a vida do gerente. Acreditava que ao intimidar o “galanteador” ele se limitaria a fazer questões de cunho profissional. A próxima pergunta soou como o barulho irritante da unha que entra em contato com a parede:
- Você é solteira?
Ela respirou fundo. Estava certa de que o futuro chefe estava cada vez mais solto nas perguntas. Foi enfática na resposta:
- Sim. Mas em nenhuma hipótese o meu estado civil irá influenciar minha vida profissional. Ao contrário de muitos – disse, atacando o entrevistador – sei distinguir isso. Meus interesses pessoais sempre vão ficar do lado de fora da empresa.
O gerente ficou encantado. Percebeu que a menina, apesar de jovem, era uma profissional ética e a postura centrada que ela transmitia era o tipo de profissional que a empresava estava procurando. A próxima rodada de perguntas era sobre sua formação acadêmica e interesse pela vaga, embora o funcionário encarregado da entrevista já estivesse certo de que ela era a escolha certa.
A menina, já estressada, respondeu automaticamente a todas as perguntas. Não se preocupou em escolher as palavras certas para explicar os motivos que a fizeram chegar até ali. A falta de experiência em entrevista para vaga de emprego a fez acreditar que as perguntas profissionais estavam sendo usadas como escape pelo galanteador de meia tigela.
A tortura finalmente acabou e a jovem se despediu com um singelo aperto de mão. Ela estava certa de que não deveria aceitar o emprego. Ele estava certo de que ela seria uma ótima estagiária. A secretária da empresa ligou para dar a boa notícia. A menina inventou uma desculpa e recusou a proposta, respirou fundo e lamentou. Não nasceu pra ser adulta.
Politicamente engajada, fala pelos cotovelos. É eclética e ama uma boa risada.
Jornal Matéria Prima é produzido por alunos do curso de Jornalismo do Centro Universitário Cesumar - UniCesumar - na disciplina Técnica de Reportagem.